quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Causa e consequência

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Pois é, desde que a sociedade moderna substituiu a educação familiar pela educação escolar as conseqüências morais se tornam cada vez mais evidentes. Pois enquanto a premissa da educação familiar é o comportamento direcionado ao respeito mútuo para convivência, incluindo limites e consideração pela hierarquia patriarcal ou matriarcal, a premissa da educação escolar é a ostentação do status diante estranhos, do resultado individual ser mais importante que o resultado do grupo, pois não há como descartar o conflito entre o sonho e a realidade. A educação é igual para todos, mas alguns são mais iguais do que os outros. a realidade de uma sala de aula atual é diretamente proporcional à realidade corporativa de uma sociedade. Não admitir isso é se esconder dos fatos. Por isso, as soluções de engenharia social passam pelo sistema educacional. Mas muito mais que uma resolução econômica é preciso resolver a questão entre o privilégio e o direito, ou em outras palavras, a educação é mesmo um direito em todos os níveis ou realmente é um privilégio obtido por mérito ou por herança?

No caso do direito à educação existe a contrapartida estranha de que este direito seja devido à integração e elevação sociais.

No caso da educação como privilégio se trata apenas do que há de fato, ser educado é uma condição de elite.

No jogo dos interesses, o ensino público gratuito faz parte de um sistema que tirou a responsabilidade dos empresários de formar sua mão-de-obra. Por isso temos essa distorção da educação em geral, pois o ensino público, pago por todos, serve de referência à empregabilidade no setor privado. Nada mais exdrúxulo. Dessa forma, o ensino realmente precisa ser pago, não por toda a sociedade, mas pelas empresas diretamente interessadas em formar sua mão-de-obra, e jamais pela própria mão-de-obra potencial. Em um mundo menos caótico, o ensino superior poderia ser gratuito para o aluno, pois seria mantido e direcionado por empresários em busca de mão de obra específica.

Exemplificando: numa divisão mais racional e honesta, o Estado arcaria apenas com a alfabetização plena, em termos de oito anos de ensino fundamental em que a disciplina, entendida como comportamento ético, seria a principal "disciplina". A escola faria seu papel de educadora social. Os demais níveis de ensino, técnico e especializado, em termos de ensino médio e superior para atender a demanda de profissionais, seriam bancados totalmente pelas empresas e associações de empresas interessadas, sejam privadas ou públicas, as únicas efetivamente responsáveis pela seleção e educação de seus quadros.

Por outro lado, o problema de discutir problemas sem discutir suas causas e pressupostos leva a esse tipo de discussão onde se expressam opiniões sem fim, e não se chega a conclusão alguma.
O sistema educacional vigente não vai mudar por vontade de alguém, por mágica ou jeitinho, só poderá mudar na medida em que a ideologia que o suporta seja melhor definida e compreendida.
Por ideologia, está na constituição brasileira, a educação é um direito universal e, portanto, subentendido como público e gratuito. E na medida em que é impossível o governo atender sozinho toda a demanda e vivemos numa democracia, este ensino pode ser oferecido pela iniciativa privada em todos os níveis, obviamente, público mas não gratuito.

Temos então duas polarizações ideológicas:

1) ensino é um direito de todos e deve ser distribuído como for possível, pago ou gratuito.

2) o ensino é um direito de todos e deve sempre ser gratuito.

Esta segunda polarização é uma idéia romântica e avessa à realidade, daí esse tipo de discussão sem fim que ocorre por aí.

Muitos interessados na educação levantam um problema real, mas não entendem que a solução passa por uma questão ideológica de base. Não adianta atacar o problema sem discutir sua causa. Sem alterar a origem dos processos, nada se altera.

Assim, caso mudemos a ideologia básica, admitindo que a educação especializada é um dever individual e familiar, retiramos do Estado a obrigação de oferecê-lo e deixamos o mercado decidir como a sociedade vai se virar sem as escolas públicas de nível superior. Essa situação já existiu no mundo antigo e no mundo medieval. A escola pública e gratuita em todos os níveis foi uma invenção da idade moderna para que sociedade industrial pudesse ter a mão de obra necessária para o desenvolvimento das empresas. Atualmente, pode acontecer que sua necessidade seja reduzida com o desenvolvimento de outras formas de distribuição de informação no mundo, ou não. Como cidadãos, o que decidimos votar? Educação como dever individual e familiar ou educação como direito universal?

Esse tipo de decisão altera a realidade, o resto é conversa fiada.

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